(Por: Márcia Christovam)

Esta é nossa 4ª Reflexão e o objetivo central é nos auxiliar na jornada de Individuação através de 4 passos para o Processo de Reconhecimento.

Lembrando o que tratamos no texto anterior, Reconhecer é despir-se das ‘Personas’.

Mas o que são as Personas? De acordo com Jung, são as faces que apresentamos aos outros como reais, mas que na verdade, são construções e às vezes até diferentes de nosso eu essencial. As Personas são adaptações necessárias para a vida em sociedade e representam nossa adequação para a execução de um determinado papel.

Este conceito reporta à Grécia antiga, onde, no teatro, os atores usavam máscaras para assumir as características de seus personagens e projetar sua voz. Assim, na vida, utilizamos as máscaras necessárias para cada papel desempenhado no palco da existência, e estas podem ser mais ou menos assertivas, mais ou menos confortáveis, mais ou menos necessárias!

No processo de me tornar o melhor que posso ser (Individuação) o primeiro passo é me despir de TODAS estas máscaras e na coxia olhar-me como essência.

Claro, como mãe ou como profissional, não me são permitidas certas liberdades, ou talvez fosse realmente melhor, enquanto tal, não expressar, por exemplo, minhas particularidades mais excêntricas ou minha tendência a um esporádico surto de raiva (rsrsrsrsr). Entretanto, negar e renegar à escuridão da ignorância essa minhas particularidades não me ajuda a evoluir. O ser completo é integral e somente olhando cada característica psicológica e espiritual que me constitui posso realizar a contento esta jornada de busca de saúde e inteireza! Tudo bem se algumas destas características ficarem visíveis só na coxia, afinal tem coisas sobre as quais não queremos holofotes! Mas o importante é que eu tenha coragem de revelar cada faceta do meu Eu pelo menos para mim mesma!!! Este é o despir da Persona que propõe Jung.

Para nos auxiliar neste processo proponho 4 passos:

I – Cuidado com as máscaras que se colam em você de tal forma que já não pareça mais uma máscara! Jung alerta para este risco de que o Ego se cole na Persona e passe a agir como se esta fosse o seu todo! Claro que em situações assim nos mediocrizamos, pois não percebemos o universo que existe e no qual podemos atuar para além desta máscara colada em nós!

Talvez você se lembre do filme ‘O Máscara’ com Jim Carrey, onde seu personagem levava uma vida aquém do seu desejo até encontrar uma máscara mágica que lhe deu coragem para ser quem desejava ser. Ele então se encantou por este artefato e passou a necessitar do mesmo. Existem papeis que desempenhamos que são de fato encantadores! A maternidade e paternidade é um bom exemplo deste tipo de papel que nos ganha por inteiro! Bom, mas a experiência do personagem do filme não é nada agradável, pois a máscara em um dado momento ganha vida própria e passa a realizar desejos que não pertencem àquele que a possui (quem possui quem agora?) E o pior: ele deseja retirar o artefato de sua face, mas esta está colada e insiste em não desgrudar. Neste ponto ele se entra em estado de profundo sofrimento e passa a ter uma série de problemas. Bem, esta é a sina de alguém que deixou de comandar o próprio destino. Voltando para a vida real, muitos são os pais e mães que se dizem levados por este papel (máscara/persona) deixando de lado seus desejos e suas vidas, sendo comandados pelos papéis ao invés de comanda-los. O ator deve conduzir o personagem e não o contrário! Entendem o perigo de deixarmos o Ego se identificar tanto com uma Persona, chegando a se colar nela? Pensando ainda no papel da maternidade e paternidade, vamos compreendendo um pouco melhor a tal da ‘Síndrome do Ninho Vazio’, pois esvaziado de si, que está, ao perder as atividades diárias relacionadas ao único papel que o descrevia como ser no mundo, perde totalmente a referência e, mais que o vazio do ninho, temos um vazio existencial.

Este risco também está posto para o período da aposentadoria daquele cujo Ego colou na Persona do profissional.

Cuidemos para usar as máscaras adequadamente e NÃO SERMOS USADOS POR ELAS!

II – Uma boa estratégia para este ‘despir-se’ gerador de autoconhecimento é a seguinte: Imagine que sua vida é uma Empresa e que você vai dividi-la em departamentos. Cada departamento será criado a partir de suas atividades diárias. 

Então, para este exercício, se proponha a observar ao longo dos próximos dias os seus afazerem e, na medida em que a consciência vier, dê nome a cada departamento, exemplo: Dep. Compras (fazer supermercado dentre outros); Dep. Limpeza (responsável por deixar a casa limpa); Dep. Transporte (levar filhos na escola e a outras atividades); Dep. Logística (responsável por organizar a casa); e por aí vai…

Só o ato de criar os tais departamento será uma experiência enriquecedora, pois gera consciência do nosso ‘ser no mundo’ e ao mesmo tempo nos dá oportunidade de reorganizar aspectos que por vezes nos escapam, já que a tendência é vivermos regidos pelas urgências! Mas, além disso, teremos a oportunidade de observar com mais clareza a atuação de nossas diversas Personas, pois cada departamento exige para si uma atuação específica.

Aproveite para analisar se existe alguma Persona se ‘intrometendo onde não deve’, por exemplo: exercer papel de mãe/pai na relação amorosa; exercer papel de adolescente no departamento profissional; usar a máscara de seriedade em um momento dedicado à diversão. Cada máscara deve ser usada no momento necessário em que aquele personagem é chamado ao palco da vida. As confusões sempre serão geradoras de conflitos e diminuirão nossa assertividade no tocante ao alcance dos resultados almejados.

III – Agora que você refletiu bastante e conseguiu elencar todas as Personas que fazem parte do seu dia-a-dia, tire um tempo para um outro exercício: descubra aquelas que tem o maior potencial de lhe gerar bem estar, saúde e prazer. Com quais destas Personas seu Eu, enquanto essência, se identifica mais ou menos?

Algumas máscaras sociais nos foram impostas, mas nunca paramos para analisar o quão necessárias elas são ou não, e por vezes carregamos pesos que nem nos pertencem. Então vamos lá… não este é um ótimo momento para refletir quais são as Personas de fato relevantes e em quais você quer investir mais em 2020. Pode ser que você não goste de alguma que não possa ser descartada, mas minimamente é possível pensar em quanto tempo e energia de fato precisa ser investido neste papel, para que lhe sobrem estes preciosos bens para outros investimentos mais relevantes. A dica é que você busque sabedoria para que estas escolhas gerem uma vida mais repleta de sentido e saúde!

IV – Aproveitando que estamos falando de escolhas, deixo uma última dica: Que tal escolher Personas com aspectos NOBRES para investir?! Pense um pouco nos papeis que você deixou de lado este ano, por exemplo: cuidar da saúde, cultivar novas e antigas amizades, desenvolver-se intelectualmente, desenvolver-se espiritualmente; alcançar sabedoria; ampliar o sucesso na carreira; dentre outros.

Por vezes vivemos a filosofia do “deixa a vida me levar”, mas podemos nos reposicionar para que no ano vindouro façamos investimento conscientes nas Personas mais relevantes, alinhadas com nossa essência, e que potencializem o alcance de nossas Metas Nobres!!!