Mind Full or Mindful

Ao longo de algum tempo comecei a estudar e a praticar uma técnica milenar de meditação chamada mindfulness. Embora no Brasil a tradução para essa meditação seja Atenção Plena, costumo utilizar a tradução ideal de Mente Plena. Ao se desenvolver uma mente plena, consequentemente você também irá desenvolver uma atenção plena, mas os benefícios não ficam apenas sobre a ótica da atenção, ele vai muito mais além e ao longo desse breve texto iremos falar sobre alguns benefícios dessa prática e a sua associação as psicoterapias.

Quando você inicia a leitura desse texto, você está utilizando a sua atenção para compreender o que está escrito, fazendo conexões e se perguntando se realmente valerá a pena continuar essa leitura. Sua atenção permaneceu plena na leitura ou ela divagou? Você sabe para onde ela foi? Consegue acompanhar esse fluxo? Consegue controlá-la? É completamente natural que a nossa mente viaje e que permaneça fixa por um curto período de tempo em apenas um estímulo, mas você consegue perceber conscientemente o exato momento em que ela divaga? O mindfulness é uma prática que permite a você estar consciente em cada momento que a sua mente viajar, mas não exercendo uma resistência, mas sim uma aceitação. A medida em que você se torna mais consciente de seus pensamentos, mais atento ao que acontece ao seu redor, uma profunda transformação se inicia dentro de você.

O mindfulness vem sendo praticado no oriente desde seus primórdios, mas em apenas algumas décadas é que se iniciou uma busca por entender cientificamente quais transformações acontecem e o motivo pelo qual elas acontecem. Essa busca pelo entendimento se fortaleceu na sociedade cientifica ocidental e à medida em que foi ganhando espaço, os psicólogos clínicos e pesquisadores começaram a incorporar em seus atendimentos a prática de meditação, com isso, o número de artigos sobre o mindfulness cresceu exponencialmente, bem como a quantidade de técnicas de imagem cerebral que podem medir seus efeitos no cérebro. Os ensaios e metanálises conseguiram demonstrar claramente a sua eficácia em uma vasta variedade de transtornos psicológicos. A técnica se tornou um modelo de terapia eficaz e hoje é reconhecida como um mecanismo de ação na psicoterapia em geral. O mindfulness é uma habilidade que nos permite ser menos reativos ao que está acontecendo no momento. Ele é uma forma de nos relacionarmos com toda experiência, sendo positiva, negativa ou neutra, fazendo com que o nosso sofrimento global diminua e nossa sensação de bem-estar aumente.

Embora essa técnica parta do oriente e está intimamente conectada a filosofia budista, não significa que para praticá-la você necessita se tornar um budista, você apenas precisa se colocar no aqui e agora e ao longo do tempo e de prática as transformações acontecerão na mesma medida em que você se empenhar. Os resultados obtidos com a prática irão fortalecer e darão mais clareza na medida em que se avança na psicoterapia. Estudos tem comprovado a sua eficácia em casos de depressão e transtornos de ansiedade, mas o paciente precisa, naturalmente, ser guiado neste caminho por um profissional capacitado. Outros estudos revelam que a incorporação da prática de mindfulness em psicoterapia cognitvo-comportamental tem aumentado os resultados positivos nos quadros de transtornos.

A medida em que a ciência tem caminhado de mãos dadas com os resultados das mais diversas pesquisas sobre o assunto, diversos psicólogos estão se especializando e praticando o mindfulness. Nos Estados Unidos existe o Institute for Meditation and Psichotherapy (IMP) que é pioneiro em pesquisas relacionadas a prática com a psicoterapia e que hoje patrocina uma ampla variedade de programas de educação continuada sobre o tema, principalmente para psicólogos interessados no assunto.

Sugiro que você, leitor, que se interessou sobre o tema, busque ampliar para além desse texto o conhecimento sobre o assunto e que possa, também, experimentar essa prática.  Para você, psicólogo, eu indico um grande livro que se intitula Mindfulness e Psicoterapia. Ele já está em sua 2º edição e você encontrará facilmente para compra, bem como diversos artigos científicos relacionados a prática com a psicoterapia. Para finalizar, ofereço uma provocação: se você pudesse escolher entre ter 20 a 30% a mais de técnica clínica ou possuir uma maior capacidade em reter a sua atenção ao seu cliente em momento terapêutico, o que você escolheria? Essa mesma pergunta foi feita a diversos psicólogos anteriormente e a resposta foi quase que unanimemente em possuir maior atenção.

 

Por: Enelcy Pereira Luiz Neto, Psicólogo Clínico
CRP 09/010600