Análise Psicológica e Existencial do filme “A Maratona de Brittany”

Então de repente (só que não! Rsrs) a vida ficou assim tão ruim!

Quem nunca teve uma sensação parecida com essa?

Brittany, a personagem principal deste comédia com pitadas de drama (ou seria o contrário?!) vive esta situação: em sua vida tudo vai muito mal!

Entretanto ela está absorvida pelo ritmo que se impôs de farras, bebedeiras e amizades tóxicas, de forma que vive sem ter consciência que caminha a passos largos para um trágico fim!

E não é bem assim mesmo? Quantas vezes sofremos com as consequências de nossos próprios plantios, sem entretanto nos darmos conta de que nossas mãos continuam a articular as teias que nos enredam cada vez mais e mais neste emaranhado de problemas e dissabores!

Penso que o mais difícil é sempre O DESPERTAR! 

Jung diz que nosso Self utiliza algumas estratégia para despertar nosso Ego para que ele se realinhe e atenda ao chamado de nosso Propósito! Sonhos, sincronicidade, e até algumas doenças psicossomáticas servem ao Self como uma voz que nos convida a acordar e realinhar nossa trajetória de vida!

Você tem escutado alguns destes toques do seu Self?!!!

No caso de Brittany o chamado mais audível se deu através da voz do médico que precisou consultar. O Doutor Falloway disse claramente que morreria mais cedo se continuasse com o estilo de vida que tinha, e a fez enxergar o óbvio: ‘Você está gorda!’

É interessante nesta cena do filme o modo como ela continua negando, e para tal evoca argumentos ligados à aceitação do corpo como ele é!

É fato, até os argumentos mais belos e politicamente corretos muitas vezes são apenas um disfarce do Ego para que nós não entremos em contato com as doídas verdades cujo poder libertador é tão grande!

Apesar de ficar braba com o médico, ela se espelha em uma vizinha – de quem também não gosta – que corre todos os dias. Já que a academia custa tão caro, como pôde comprovar, correr é de graça!

Aqui vale uma olhada no modelo relacional de Brittany: tem raiva da vizinha Catherine (que tem o potencial de ser um modelo positivo para usa vida); briga com o médico (que lhe diz verdades com potencial de salva-la); está afastada de sua irmã e cunhado (que tem um papel positivo muito importante em sua construção como pessoa). Ela só está próxima das pessoas que na verdade lhe fazem muito mal, a exemplo da superficial Gretchen, sua colega de quarto e de farra que percebemos logo no início do filme, nem a conhece de verdade, apesar de estarem sempre tão juntas!

Quando ela começa a realizar seu salto positivo, inicia um processo de relacionamentos saudáveis: com Catherine, com o novo amigo Seth e até mesmo uma possibilidade de relacionamento amoroso de troca afetiva positiva com Jern Dahn. Mas como seus traumas são bem profundos, trazem à tona os pensamentos distorcidos e sentimentos confusos, e acaba repetindo o padrão e rompendo de forma agressiva com todos desta nova rede de relacionamentos que começava a construir.

Esta é uma parte triste do filme, ver como o processo de autoboicote pode destruir a vida de uma pessoa! Vale refletir se de alguma forma estamos permitindo que esta força obscura dos traumas nos conduzam por caminhos similares aos de Brittany!

Bem, voltando ao curso de sua saga, Brittany se desafia a sair e casa para correr, e é linda a cena da primeira tentativa! Parece impossível que ela consiga, mas neste momento vem o insight “É só uma quadra!”

Que sabedoria! Precisamos aplica-la a todas as áreas de nossas vidas que nos desafiam! 

“É só uma quadra!” 

“É só um capítulo!”

“Vou guardar só 100 reais por mês!”

“Vou falar só bom-dia pra essa pessoa difícil!”

“É só…”

Perdemos muito por olhar o macro e pois ficamos conectados com quão difícil é!

Mas a pequena parcela será sempre viável para ser colocado em prática!

O filme segue com aquela proposta de um-dia-de-cada-vez, e com uma grande meta à frente: a Maratona de Nova York.

Então, tudo vai muito bem, até que ocorre uma fratura por esforço repetitivo.

Aqui a lição é: quando nos tornamos obcecados por uma meta corremos o risco de perder o verdadeiro sentido da jornada. Obsessão nunca será um fator motivador positivo e suas consequências tendem a ser muito graves! Podemos entender a fratura como uma nova chance que o Self dá para o Ego acordar de suas perigosas miragens!

Com a fratura, e sem ter onde morar (a questão da moradia é um tópico à parte que não quero tocar nesta analise, mas que sugiro que você pense a respeito ao assistir o filme!) ela tem que voltar para a casa da irmã.

Interessante este momento, pois ele revela algo salutar na ‘saga da cura da alma’: a necessidade do retorno às origens. Por que você acha que o Psicólogo fica perguntando suas histórias durante a Psicoterapia?!!!

Na casa deles ela acaba tendo uma das crises mais sem sentido e de estrema agressividade para com uma convidada no aniversário de seu cunhado Demetrius. Sabe o fundo do poço? Particularmente eu vejo este momento como ainda mais degradante do que uma das cenas iniciais que foi muito forte (quando ela vai para o banheiro satisfazer sexualmente um homem em uma boate). Lógico que esta primeira cena é muito dramática, mas vejo esta segunda como mais degradante porque neste ponto da caminhada, ela já tinha tido a oportunidade de se conectar com seu lado melhor e mais saudável, então, voltar para sua versão ‘suja’ e projetar toda sua dor, revolta e percepção autodepreciativa em uma convidada do cunhado (uma pessoa que a ama e apoia incondicionalmente), tem um potencial de gerar uma ressaca psicológica ainda maior do que a experiência do sexo com o desconhecido.

Mas justamente depois deste episódio o cunhado vai conversar com ela, e chama-a para a realidade!

Nesta conversa ele a reconecta com a essências terapêutica e de cuidado com o outro da qual nasceu sua veia cômica. Fala de sua ligação saudável com o pai. Toca no tema do trauma do abandono da mãe (então não é à toa que ela não constrói relações saudáveis, pois seu inconsciente a programou para continuar revivendo a experiência do abandono). Relembra-a de seu projeto profissional e do quanto ela havia se afastado dele. Enfim, “bate uma real” diante da qual a única alternativa é ACORDAR PRA VIDA!!!

Como é bom quando temos a oportunidade de ter alguém que nos ama e que nos chame/convoque para uma conversa difícil, muitas vezes doída, mas que nos libertará das amarras que nos impedem de ir além!

Depois deste mergulho, agora e começar a Maratona de reconciliações com os relacionamentos que de fato valem à pena! E também se preparar para a tal Maratona de Nova York que será o grande desfecho deste enredo!!!

Parabéns a verdadeira Brittany que em sua saga representa todos nós em nossos momentos de: dormir e ignorar os problemas … acordar e ver a realidade como ela é … lutar … desistir … voltar a persistir … cair … reerguer… sentir dor … buscar a cura… conquistar… viver!!!